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Foto do escritorLuiz Antonio Titton, Phd

Como aplicar aprendizagem ativa em um mundo de alunos passivos

O pânico tomou conta da sala quando pedi que apanhassem uma folha em branco, sem pauta, e desenhassem o conceito. O papel branco, implacável, assustador causou a insegurança geral. Mas eu queria usar uma estratégia de aprendizagem ativa a qualquer custo com aquela sala de alunos passivos. Eles como que lutavam para não darem um passo adiante e tomar alguma posição. O minute paper pareceu uma boa estratégia, mas mesmo essa estratégia, a mais básica e ridícula de toda minha caixa de ferramentas de aprendizagem ativa, parecia inoperante.

Era uma oitava série, e eu ainda era um professor jovem demais para imaginar algo que não fosse disruptivo. Conhecia várias estratégias, afinal filho de professora sempre tem suas cartas na manga, mas as óbvias seriam muito fáceis e, provavelmente, não iriam funcionar. E, o conceito era o de uma parábola.

A vontade de dar um tiro de canhão na turma me pareceu uma boa ideia e fui avante. Não queria usar esse exemplo, já tinha sido criticado por usar algo destrutivo em uma simulação de palavras na aula de português e não gostei da crítica.

Já desesperado, quase com vontade de sentar e bufar, lembrei-me de Maslow e procurei rapidamente o que faria aquela turma se motivar. Não tinha dúvida que teria que ser algo que os colocasse no poder do aprendizado, isso é aprendizagem ativa e eu acredito muito nessa abordagem. Comecei pelas forças fisiológicas que poderiam motivar os alunos: respiração, comida, água, sexo, sono, homeostase, excreção... não achei nada interessante e até perigoso galgar nessa dimensão.

Resolvi pular as motivações de segurança, afinal ameaçar a segurança dos alunos ou levantar questões motivacionais sobre suas seguranças (corpo, recursos, moralidade, família, saúde) não seriam nada adequadas.

Já pensando mais um pouco, pensei no amor e relacionamento. Talvez aí eu achasse algo. Mas, como encaixar isso em um conceito como a parábola?

Lógico! O famoso aviãozinho, torpedinho, ou seja lá que nome que se dá quando você joga algo para chamar a atenção da sua paquera. Mas, isso é muito antigo (isso aconteceu faz 40 anos, me desculpa se hoje o povo usa Tinder, naquele tempo nem existia celular).

Então fiz um desafio (absurdo): quem conseguiria desenhar o trajeto que um sonho de valsa (já conto o que é isso) faria se eu jogasse para chamar a atenção de uma paquera. Mas, o detalhe é que eu quero jogar com carinho, não é para machucar a garota.

Lógico que foi uma explosão de gargalhadas - o professor pirou!!! Vi que algo tinha acontecido. Então vieram os desenhos, foram mostrando e olhei enquanto passava pelas carteiras. Alguns não entenderam nada, outros entenderam até demais.

Então, pedi a 2 que explicassem suas soluções. O que mostrou uma linha reta, eu expliquei que para fazer aquele arremesso, tinha que ser forte e ia machucar a paquera. E o outro mostrou uma curva, exatamente a parábola (disse eu), porque lançou com menos força e para compensar jogou um pouco mais para cima.

Para quem não se lembra do que é um sonho de valsa, a foto explica - era um bombom amado e adorado até a geração que hoje beira os 50 anos... coisas do passado, a moda agora são outros mais sofisticados. Mas, o romantismo desse bombom parece que está na alma dos brasileiros, veja esse vídeo.




Agora vamos para a técnica que foi usada. Apesar de estranho esse exemplo, isso serviu para uma sequência de fatos contínuos que promoveram, pouco a pouco, a conquista da sala. Não se fala muito em prender a atenção dos alunos usando a motivação com a abordagem da pirâmide de motivação de Maslow. Isso é um erro, já que para que as pessoas adotem uma aceitação de estratégias ativas, é necessário antes que elas se manifestem ativamente. Explicando melhor, como esperar que os alunos se prontifiquem a participar de uma aula de forma ativa quando os colocamos durante muito tempo na posição de sentados engolindo o que falamos? É preciso conquistar essa motivação com algo que tenha um pouco de desafio ou conquista, por exemplo. Estamos falando justamente das motivações de auto-estima.

Conclusão

Uma conclusão simples é que para envolver uma turma de alunos passivos, usar técnicas de motivação a partir da análise de Maslow pode ser uma boa opção para dar o início na dinâmica. Uma vez que a aprendizagem ativa usa justamente a individualidade como o ponto central da motivação para a aprendizagem, parece muito justo que usemos as camadas de realização pessoal e estima como fatores da própria motivação dos alunos. Então, ao se acessar a criatividade, espontaneidade e aceitação dos fatos, estamos buscando promover a realização pessoal dos alunos. E, ao se promover a solução de problemas, a sua conquista é um elemento das técnicas de simulações e jogos que induzem para a motivação para a aprendizagem, porque não usar exatamente isto como tática didática?

E, também, na camada da motivacional de Maslow referente a estima, tem-se além da própria auto-estima, a confiança, o respeito aos outros e respeito dos outros - nada mais atual do que isto neste momento em que as diferenças são aceitas e o próprio assunto de booling diminuiu sua relevância nas publicações por estar começando a ser algo do passado, mas não menos importante o combate a isto.

A propósito, na aula seguinte levei dois sacos de sonho de valsa distribui e eles não jogaram os bombons uns nos outros, mas a guerrinha de papel de bombons foi inevitável... brinquei junto.


 

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